2 de julho de 2008

Bares de Praia em Gaia


Desde que Gaia passou a ter presidente de Câmara, ano após ano, quando tem reinicio a época balnear têm sido evidentes as transformações e os melhoramentos efectuados na orla marítima.

No entanto, este ano pela primeira vez reparei que o “progresso” que ainda está em curso, não constitui mais do que um passo atrás. Refiro-me à construção de forma generalizada de bares na praia que a Câmara adjudicou no âmbito dos Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC).

É certo que longe vão os tempos dos tascos abarracados, feitos com pedaços de madeira e chapa de zinco, com cabeças de pregos salientes à espreita de um dedão menos cauteloso. O fumo da sardinha a assar e o cheiro do frango a torrar no meio bidão enferrujado convidavam os homens de tronco desnudo e de vermelhuscas barrigas a ai sentarem-se para na companhia das suas senhoras deleitarem-se a chuchar uns ossinhos.

Mas não é pelo facto de ser um imperativo legal a protecção das dunas e a exigência de condições higieno-sanitárias adequadas, que se justifica a construção destas coisas estranhas que mais parecem discotecas de porte desproporcionado e de arquitectura desajustada que de forma artificial aterraram sobre as dunas das praias de Gaia.

O problema não está nas edificações serem feias, mas antes totalmente desenquadradas e desajustadas. Na verdade, uma casa rústica pode ficar bem na montanha, mas não é por isso que a mesma deve ser implantada na avenida central de uma grande cidade. Aqui sucede o contrário. Quem quer montar um restaurante deve fazê-lo nos locais apropriados, por exemplo atravessando a rua e não na areia da praia. Um bar de praia deve ter um conceito diferente.

Para citar apenas um dos exemplos, não é necessário ser grande entendido, simplesmente bastaria um pouco de bom senso e sentido crítico para facilmente se concluir que a parede instalada na praia de Francelos é uma aberração, constituindo uma agressão clara ao enquadramento paisagístico do local. Ai que saudades do velhinho “Praia Atlântico” com aquele ar de bar de praia simples, exótico, frequentado por típicos surfistas locais e que transbordava aromas de verão e boas sensações. Pergunto…não são afinal estas emoções que deve proporcionar um local como este?
Parece que não. Queremos arquitectura, queremos ser modernos… Desde os bares de praia à torre dos salva-vidas. As superfícies curvas e trabalhadas estãoo proibidas, e toca de construir tudo com alumínios, Prodema e muito vidro como manda a moda…
Por este andar pouco faltará para dar a concessão ao Eng. Belmiro que à entrada de cada praia construirá pequenos centros comerciais.

Mas isto não fica por aqui. Ainda haverá mais uma surpresa, no fundo, a cereja em cima do bolo. Quando estes estabelecimentos estiverem todos em pleno funcionamento, diga-se que pelo andar dos trabalhos deverá ser lá para o Outono, vamos poder assistir ao fenómeno que denominaria de Fenómeno Santoinho-Guggenheim. E perguntais vós, em que consiste o fenómeno?
Para simplificar, imaginem o Staff do arraial popular Santoinho com gerência adereços incluídos, de repente a prestar serviços no museu d Bilbau em substituição do seu habitual quadro de pessoal!

É que apesar desse ar pós moderno e minimalista das construções, a sua grande maioria elas continuarão a ser exploradas pelos antigos banheiros e empresários de barracas que rapidamente se encarregarão de afixar na chaminé do exaustor os tradicionais slogans:
“há prego em pão”, “francesinhas”, “cachoros especiais”. Aqui, ao som de uma rádio local poderá quando muito saborear um cerveja mono-marca, a que celebrou contrato com o estabelecimento para o ajudar a suportar o elevado endividamento que estes projectos acarretarão e que lhe será servida num qualquer copo acabado de sair da máquina de lavar, ainda quente a transbordar de espuma. O pagamento: no acto, como sempre. Para acompanhar, tostas mistas, cachorros, e se tiver sorte, pode ser que haja tremoços e amendoins!

Resta-nos a esperança de que o mau tempo do próximo Inverno se encarregue de devolver à zona o seu estado natural original.

Bons mergulhos!

Poeta rural,

1 comentário:

Anónimo disse...

Fui este fim de semana ver as novas estruturas dos bares e para mim, o pior, é que estão TODOS iguais, tal como os descreves. Agora nada os diferencia. Para além do mais, tal como esperava, os preços dispararam.