5 de setembro de 2008

ONDA DE ASSALTOS EM PORTUGAL


Não haja dúvida que a criminalidade está a aumentar em Portugal e cada vez mais os seus autores recorrem a meios mais sofisticados. Ao mesmo tempo, é com alguma tristeza que constato que, tal como em outros campos, também aqui estamos a perder muito da nossa identidade cultural.
Quem não se lembra de ouvir histórias do famoso roubo de esticão em Zundap XF 50, em que com mestria, como se estivessem a tourear, duplas de larápios sacavam a certeira de forma limpa e habilidosa às senhoras penteadas que se lhes punham a jeito no passeio, ou do carteirista do 82 que mal a campainha de paragem soava, aproveitava o impacto da travagem e num ápice sacava a carteira do bolso dum qualquer reformado mais distraído. Outras tantas vezes o encosto era aproveitado para apalpar senhoras avantajadas que por perto passavam. Quem não se lembra também da burla do saco com papeis que era impingido habilidosamente como que por magia em vez do suposto casaco de couro manhoso que supostamente se pretendia comprar.
Isto sim, eram assaltos com arte. Outros tempos… em que cada um desenvolvia a sua técnica e especializando-se nela, treinava-a e punha-a em prática como se de uma arte se tratasse. Aí só os verdadeiros artistas, os melhores de entre os melhores, podiam ambicionar a ter uma carreira longa. Quem não fosse suficientemente bom não vingava e não tinha outro remédio senão enverdar por uma profissão honesta.

Agora não. É tudo igual. Um assalto em Portugal é igual a um assalto em São Paulo ou em Berlim. È tudo de caçadeiras de canos serrados ou armas automáticas… Que é feito da saudosa ponta-e-mola?
Sem dar conta, perdeu-se aquele envolvimento, aquela mística, até um certo romantismo presente nas histórias que ouvíamos amiúde de assaltos. Agora não. Se a coisa se complica, começam logo aos tiros e matam mesmo!
Assim não tem graça nenhuma.
Hoje é tudo tão impessoal que até os ladrões trabalham encapuzados…
Para culminar, quando capturados são apresentados aos juízes e estes dão-lhes pulseirinhas!

PS: Por duas vezes vi esta semana dois convidados em canais diferentes que provocaram espasmos de raiva aos jornalistas que os entrevistavam, ao referirem que esta onda de assaltos sempre existiu e que este estado de espírito em muito deve-se aos media que por não terem outros assuntos com que encher o telejornal entretêm-se a divulgar assaltos de faca e alguidar. Nada mais certo.

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