11 de setembro de 2007

Zandingas do Crime

Não sabia eu que a escola Zandinga tinha em Portugal tantos e tão bons fiéis discípulos! De facto, bastou para isso que surgissem as primeiras notícias de que a criança poderia eventualmente ter sido alvo de homicídio, para que de forma displicente e irresponsável se vissem fora das trincheiras uma mão cheia de atiradores furtivos, ditos "especialistas da matéria", a opinar sobre o tema. Pois nestes agitados dias de overdose noticiosa sobre a pequena Maddie, todo o indivíduo que consiga articular duas ou mais frases sobre o caso, parece ser um bom convidado para debates ou telejornais. E as barbaridades são tantas e tão díspares, levando-me a crer que a escola Zandinga sofreu nos últimos anos um desenvolvimento no sentido da ramificação disciplinar. Ouve-se de tudo um pouco:
- Há os que referem a falta do urso na mochila em determinado momento como sendo um claro indício de que os pais estão a mentir.
- Há ainda os que têm o dom sobrenatural de conseguir identificar culpa ou inocência nas feições do rosto dos envolvidos no processo.
- Há por fim os filósofos da ciência criminal que de forma artística tentam explicar a contenda, curiosamente, não deixando de proferir por entre os bitaites lançados que não conhecem o processo, o que desde logo demonstra o carácter especulativo e irresponsável do que andam por ai a dizer.

Já que se consideram dotados de tamanhos dons “cientifico-intuitivos”, o que eu gostaria era de ter visto estes senhores a falar dias depois de a miúda ter sido raptada e não agora quando a teoria das probabilidades joga a seu favor e começa a servir de confortável escudo para amortecer as calinadas proferidas. E porque a maré está a encher no sentido do homicídio, quem mais cedo se colocar em bicos de pés a dizer que já sabia de tudo e que se estava mesmo a ver que o desfecho ia ser este ou aquele, para além do que factura no imediato, mais probabilidade terá de garantir um futuro melhor. É que isto de ser psiquiatra-forense deve contemplar muitas horas de gabinete vazio e ser autarca não dura sempre. Já estarão com certeza a pensar nas palestras que irão dar, nos workshops para os quais serão convidados, nos livros que irão escrever…
Vale ou não vale a pena arriscar! Afinal, não têm nada a perder, mas a ganhar podem ter muito!

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