14 de outubro de 2005

Ai que saudades de um bom escândalo!


As tardes de verão, quentes e abafadas, eram abraçadas por um sol luminoso que batia no empedrado quente da rua Alfredo Keil. Todo o raro movimento, era lento e arrastado. Os sons de uma cigarra, que, fruto dos tempos modernos, por ali fazia vida num qualquer canteiro, completavam o ambiente sufocante e desértico que convidava a nada fazer.
E nós, jovens cumpridores das recomendações da mãe natureza, sentados num dos muros disponíveis, esperávamos que as tórridas horas passassem, para então iniciar uma qualquer actividade lúdica ou desportiva que entretanto por certo nos viria à cabeça.
No entanto, nem sempre a vida deste povoado era calma. A pacatez da rua, era de quando em vez interrompida por um festival digno de acampamento cigano. Os escândalos da Dona Esterlinha*.
Tudo parecia imutável e parado, quando de repente, um som agudo desesperado, cortava todo o ambiente bucólico e ao eclodir fazia estremecer todo o quarteirão. Mal ouvíamos o primeiro decibel, rapidamente, que nem flechas, corríamos para ver o espectáculo, sempre com a esperança que durasse o suficiente para chegarmos a tempo de apanhar o fio à meada. Ao aproximarmo-nos do local, abrandávamos o passo, pois tinha de parecer coincidência o facto de estarmos a passar por ai a tão imprópria hora. A temática incidia normalmente sobre os problemas conjugais ou familiares em geral. Mas de entre todas as problemáticas abordadas nestas verdadeiras obras vivas da sociologia moderna, um dos que mais me marcou foi o escândalo que abordou a temática dos banhos da filha. Embora distante, as principais palavras proferidas neste acontecimento ficaram-me gravadas na memória, pelo que, para que fique para a posteridade, orgulhosamente deixo aqui um breve excerto do que mais relevante foi proferido:
(…)
Ai a filha da puuuuuuuuuuuuuta da gaija!
Foda-se prá rapariga, é sempre a mesma merda… carailho!
Sai-me da banheira, minha puuuuuuuuuta!

Já estás aí há mais de meia hora… carailho!
Esta filha da puta agora passa-ma vida na banheira…

Num é que esta puta toma-me banho todos os dias…
Foda-se…lá pró carailho!

(…)

Isto sim, era qualidade de vida…


* Nome propositadamente alterado, dado que a protagonista é hoje uma ilustre personalidade do JET7 da comunidade local.

Tylben

1 comentário:

Primo disse...

5 estrelas.
Deu para rir. Já não me lembrava ! Foi mesmo assim.