18 de outubro de 2004

O MILAGRE DE SÃO JACINTO – “Vale a pena acreditar”

História Infantil de cariz educativo

Uma vez, estava eu a caminho das dunas de S. Jacinto, quando de repente uma náusea me fez suar e um forte turbilhão invadiu minha tripa: Num sei o que terá sido; se da cabidela, das cervejitas, ou mesmo das azeitonas com anchovas que naquele dia havia comido. O que sei e ainda me lembro como se fosse hoje, é que a dor de barriga foi tal, que tive mesmo de parar a viatura em área de reserva ecológica e desaustinadamente sair em busca de um lugar onde defecar. Por sorte, não demorei mais de 1 minuto a encontrar o meu obradouro. Um tronco semi-caído, revestido a musgo seco na parte superior, parecia dotado da ergonomia e conforto necessários à tarefa a desempenhar. Mal tinha acabado de ali assentar as minhas coxas e começado a chamar pelo reflexo eliaco-gástrico, quando, acompanhada de um zumbido forte e intenso, de entre um arbusto surge ela. Era linda… seus olhos negros espelhados, de tão grandes, pareciam duas bolas de natal e reflectiam em par, a minha destorcida cara, avermelhada de tanto puxar. Suas asinhas, tão belas, apresentavam cores e nuances de verde e azul-cobalto que me hipnotizavam e me deixavam com uma cara de palerma ainda maior do a que a que normalmente um gajo tem quando se encontra a cagar de cima de um tronco.
Eis senão quando, após dar duas voltas de reconhecimento, vem que nem kamikaze aterrar em cima de meu serviço, que entretanto timidamente havia começado a depositar-se no húmus daquele pinhal. Foi ai que toda a tragédia se deu. Estava ela delicadamente a inspeccionar o monte, quando de repente, que nem machadada final, me sai uma nova larada, que abruptamente cai sobre a anterior cobrindo-a por inteiro.
AI que tristeza se apoderou do meu coração. É que embora recente a nossa relação, parecia que nos conhecíamos há anos, tão grande foi o desespero que senti ao ver que a minha querida varejeira estava todinha coberta de merda…
Desesperado, saltei do tronco em seu auxílio e pegando no primeiro pau que vi, comecei a remexer o pastelão como se estivesse a mexer a sopa. Quanto mais eu mexia mais aflito ficava, ao não encontrar vestígios da minha amiguinha. Parecia-me até ouvir uma voz fininha, a dela, que me suplicava: -socorro tira-me daqui, zzzzzzzzzzzzzztttt, socorroooooooo…zzzzzztt
Foi então, que por entre pevides e pasta acastanhada, surgiu uma pequena mancha escura de esperança.
Exaltei de emoção. Com o pau, cuidadosamente separei o pedaço em questão e dei inicio a uma meticulosa inspecção. Quanto mais avançava na investigação, mais certeza tinha de que havia encontrado a minha amiga. A grande questão era saber se viva ou já sem vida!

O tempo corria contra mim, e eu continuava a rapar a merda em seu redor. Sentia-me um bombeiro a efectuar uma operação de desencarceramento.
Quando já tinha rapado o bastante, as suas graciosas formas começaram novamente a mostrar-se. Pego então nela e a correr, dirijo-me ao meu carro, onde uma garrafa de água serviu para lhe dar um apressado duche. Dei-lhe banhinho com todo o carinho e encostei-a ao ouvido para lhe tirar a pulsação. Nada…Não se ouvia nada!
As asas, não mexiam, os olhinhos fechados, completavam o cenário que me fez acreditar no pior.
Foi então que resolvi pôr em prática tudo o que os amigos manos Migas e Bejeu me ensinaram do seu tempo de escuteiros e decidi fazer-lhe a tradicional respiração boca a boca. Encostei-a delicadamente aos meus lábios e como se da flauta do Rão Kiao se tratasse, comecei a soprar contra a bichinha. Soprei, soprei, soprei….
Com este stress todo, confesso-vos que já me estava a dar vontade de cagar outra vez, eis senão quando ouço a minha linda a tossir. Olho para ela e ela abre um olhinho. As asas entram em funcionamento e o outro olhinho também se abre.
Não cabia em mim de contente. A vontade de cagar entretanto tinha passado, e eu, com a minha amiguinha ao colo, dava pulinhos de contente para celebrar a vida, ou melhor, a nova vida da nossa querida amiga.

Corolário da história:
Vale a pena a creditar. Façamos deste exemplo verídico de vontade de viver, uma corrente que invada os nossos corações e esteja permanentemente presente nas nossas vidas e acções quotidianas.

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