A minha carta ao Pai Natal

Este ano portei-me bem, portanto sinto-me no direito de te pedir uma prenda em condições. Sim, e é melhor que quanto antes retires do saco o par de peúgas de felpo que te preparas para me trazer, pois desta vez não vou cair nessa. Mais a mais, já está na altura de pores fino, pois até o meu filho começa a desconfiar que tu não existes e certamente não é com peúgas e camisolas interiores quentinhas que vais convencer alguém do contrário. E de nada te vale vires com argumentos do tipo - é por causa da crise financeira mundial - ou então - é mais leve para carregar no saco, pois as minhas costas já não são o que eram – pois isso vai tudo cair em saco roto. Por falar em dor de costas: para dar credibilidade à coisa vê lá se ao menos este ano apareces de cadeira rodas, pois há mais de 30 anos que te conheço e tens sempre esse ar de velhinho jovial de bochechinhas rechonchudas. Nasceste já velho e gordo, mas nunca mais envelheceste?
Achas que consegues convencer alguém?
E mesmo que não envelhecesses, com essa banha toda, já deverias ter tido pelo menos três enfartes do miocárdio, duas tromboses e um AVC, pois deves-te fartar de comer porcarias que gamas das mesas quando desces pela chaminé para deixar as prendas. Depois para disfarçares bebes o copinho de leite e metes as cenouras sabe-se lá aonde, pois eu cá nunca vi renas a gostar de comida de coelhos.
Mas vamos ao que interessa. Para que não tenhas desculpas, anexo a foto da prenda que quero que me tragas este ano. Mesmo assim, devo confessar, que não estou seguro que não me vás enfiar o “urso”… Há quanto tempo não vais à Multi-opticas à consulta?
já não deves ver um boi através desses ridículos óculos redondinhos que deves ter fanado ao Mahatma Gandi quando desceste pela sua chaminé para lhe dar umas cuecas tipo lençol novas de prenda de Natal. Bem, mas não me resta outra alternativa se não, ter esperança de que te lembres de mim...

Ó Pai Natal - olha-me só para esta posse…
Que potência...que estilo, que elegância!
As linhas sóbrias, intemporais, mas ao mesmo tempo modernas, com o toque de classe que lhe é dado pela criteriosa localizção dos acessórios, equilibrados e bem desenhados. Parece mesmo estar a olhar para mim e querer dizer: vem, quero ser tua!
E como sei que és velho e sensível não vou entrar em descrições mais brejeiras do tipo -“vem filho, monta-me severamente e conduz-me ao paraíso. Quero sentir teu peso e amortecer-te a cada impacto, com suavidade e delicadeza. Deixar que sintas a brisa beijar o teu pescoço, enquanto sem qualquer atrito, harmoniosamente nos envolvemos numa louca e deliciosa viagem”
É esta a prenda que eu mereço e que eu espero que me tragas. E nem penses em modelos de cilindrada inferior, é mesmo esta, com esta roupagem, tal e qual está na fotografia. Se não couber pela chaminé, podes mesmo deixar na garagem que eu tratarei de lhe arranjar um leito confortável e acolhedor.
Conto contigo, velho castiço!