Há já muitos anos atrás, deu-me prazer poder entrar na Zara de Santa Catarina e sentir que algo, no tradicional conceito de comércio de vestuário tinha mudado. Agora, já podia mexer, apalpar (a roupinha… pois tá claro), experimentar, desarrumar e por fim decidir, sem que ninguém me viesse interromper. Tratava-se então, de uma nova forma de operacionalizar o comércio deste tipo de artigos e que veio mesmo a calhar. As empregadas, estavam agora nos balcões a dobrar as suas roupinhas e só quando solicitadas entravam em conversa com o cliente. Desta forma, livremente podíamos investigar e escolher sem nenhum tipo de pressão ou condicionamento. Deu-me prazer, porque fundamentalmente estava-me a ver livre daquelas senhoras mega-simpáticas e daqueles funcionários de pullover com gola em bico e bigode de fina espessura, que serviam nas tradicionais lojas da baixa. Ainda se estava na montra a apreciar o artigo, já elas se perfilavam que nem Leoas na preparação do ataque à presa. Depois, bastava meter o pezinho em cima de 5 cm de alcatifa, e lá se atiravam elas:
- Bom dia. Quer ver uns sapatinhos?
Mesmo que o modelo da nossa preferência não existisse em stock, o que não raras vezes acontecia, era vê-las que nem equilibristas de circo a transportar pilhas de caixas de sapatos que rapidamente se estendiam por grande parte do chão da loja.
Quanto mais caixas e papel vegetal elas espalhavam pela alcatifa, mais condenados estávamos a ter de sair dali com um parzinho de sapatos. É que, depois de assistir a tal empenho e trabalho dedicado, raramente se tinha a coragem necessária para recusar a compra do artigo. E não valia a pena sacar dos tradicionais argumentos:
- são bonitos, mas apertam-me um bocadinho e o número acima é muito largo.
Logo atacava a mercadora com o habitual:
- Isso depois alarga muito…garanto-lhe.
E se ainda assim não ficássemos convencidos, logo arranjavam um caso na família que tinha comprado uns iguaizinhos para comprovar o alargamento do material.
Se fosse o número acima, era muito fácil, logo solucionando o caso com a sugestão da tradicional palmilha.
Pois hoje, passados talvez 15 anos, tenho a certeza que estava errado. Que saudades tenho eu dessas senhoras!!!
Voltem senhores de pullover de decote em bico.
Hoje, salvo honrosas excepções, em todas as mega-lojas de comércio desses nossos centros comerciais, a competência e a mais valia do funcionário que atende o cliente é subestimada pelos empregadores e propositadamente reduzida ao mínimo necessário.
A teoria é: normalizar, padronizar e sistematizar. O empregado comum, hoje esta formatado para proferir uma série de frases tipo papagaio bem-educado, mas se lhe colocamos uma questão pertinente sobre o produto que supostamente ele deveria conhecer ou não sabe, ou sabe muito pouco!!!!
Hoje em dias, verifica-se um grande contra senso nas grandes cadeias de comércio. Por um lado não se cansam de afirmar que os recursos – humanos /“capital humano” são a sua mais valia e por outro tratam os seus empregados como se fossem mentecaptos, retirando-lhe toda e qualquer réstia de autonomia e capacidade de acção em função da situação concreta…
Em sua vez, surgem cartões de fidelização, flyers, folhetos, catálogos e afins…
Esquecem-se de uma coisa: Os folhetos e cartões de fidelização não transportam caixas de sapatos nem respondem a questões sobre a elasticidade do sapato!
Tinha muito mais a dizer sobre este tema, mas não agora não tenho tempo. Mais tarde escreverei um livro!
Tylben
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