
Apresento-vos a mais recente coqueluche de Vila Nova de Gaia: Cabedelo’s Beach Resort Club - Um empreendimento de veraneio, de origem popular, totalmente idealizado e edificado com recurso à iniciativa privada, que ano após ano, brinda o bico do Cabedelo com muita animação e um requinte digno de registo.
Este fantástico empreendimento, altamente ecológico, foi inspirado nos luxuosos resorts de Bora Bora, e representa, tudo leva a crer, uma forte aposta da autarquia Gaiense. A ver pelo consentimento implícito com que tem presenteado os seus empreendedores e assim potenciado, ano após ano, o seu crescimento.
Será que tem o apoio do Programa POLIS????

Políticas à parte e porque o fenómeno é de veras interessante, importa aqui abordar a temática com a profundidade exigida.
É que estamos a falar de umas dezenas de altruístas amantes da natureza que, com uma dedicação peregrina de quem vê nisto não sei o quê, passam neste local em média 15 dias das suas férias de verão, abdicando das comodidades da sua casa, que normalmente, não fica a mais de 10 Km do resort.
A Caracterização do cliente do Resort
Os seus clientes, são normalmente famílias numerosas, em que 4 em cada 10 vivem do rendimento mínimo nacional.
O chefe da tribo, reconhece-se ao longe pela pança imperial que ostenta. Usa sandália de napa castanha entrelaçada ou sapatilha de futebol salão com a pala tipo língua de cão com sede. Uma T’shirt alusiva à última confraternização da CGTP e um calção de futebol, completam a indumentária do líder. Convém resalvar que a partir do terceiro copo ou caso a nortada amaine, a t’shirt salta logo fora. São adeptos de futebol de salão, ciclismo ou columbofilia, mas é na edificação da própria moradia de veraneio, que estes, exibem verdadeiramente os seus dotes.
Mestres do churrasco, são os únicos na família com autoridade para manobrar o fogareiro. Normalmente, gostam de xuchar uma boa coxa de frango até à exaustão, emitindo durante a sucção, suados uivos de prazer. Concluída a árdua tarefa, vistoriam o que resta da presa, através de um experiente movimento rotativo de pulso, e com suplesse, arremessam-na para perto da morada do vizinho.
A Moradia
Um iglo que estava em promoção no Continente, uma barraca de pano azul e um par de cobertores. Para rematar, dois plásticos grandes que o Tono trouxe da oficina, completam os materiais de construção indispensáveis à edificação da morada para a quinzena.
Embora caguem atrás dos canaviais e limpem o cu à barba de milho, gostam de manter a sua privacidade, pelo que montam sempre a quitanda em forma de círculo, tipo Citânea de Briteiros.
Os mais privilegiados, fazem um tolde que liga directamente a ford transit à entrada da suite Iglo. Infelizmente, isto é um luxo, só permitido a uma pequena minoria.

Uma fantástica vivenda tipo 4 em que a Arquitectura e Engenharia Civil foi transportada a um nível metafísico.

Uma luxuosa moradia Tipo 3 com logradouro
O Convívio
Entre uma futebolada no campo pelado adjacente ao resort, uma partidita de malha, entremeada com umas cervejitas na barraca em frente, e um ronco na suite depois de almoço, os machos da tribo lá vão ocupando o seu tempo.
Quanto às mulheres… as mulheres trabalhem ainda mais do que em casa. Certo é que se perguntarmos aos respectivos machos, estes são da opinião que elas descansam até demais. Segundo eles, o simples facto de trabalharem ao ar livre, retempera-lhes o corpo e a alma.
O Grande dia
O grande dia é o Domingo. Neste dia, os cobertores são sacudidos. Até os sacos cama são postos a arejar, mas sempre sem exagerar, se não, tornam-se muito frios à noite. As cadeiras de plástico de reserva entram em acção e num abrir e fechar d’olhos, a manta que à noite serviu para agasalhar a miudagem, está agora estendida no chão, transformada em toalha. A pequenada, está impaciente porque o tio Nelo também vem e prometeu que para além do dele, trazia mais um pneu de camião cheio de ar para a os sobrinhos se entreterem a brincar no esgoto a céu aberto.
O cheiro a estrugido é levado pelo vento e os campingás não param de trabalhar. Os mestres do fogareiro, enquanto dão carinhosas palmadinhas nas barrigas, vão virando a febra e o entrecosto até este estar pronto e poder então ser saboreado à unha pelo resto da família.
E assim, passam os dias de verão. Entre secos dias de calor em que a sede aperta e outros mais húmidos que trazem a dor do costume que nos arrepanha este lado todo por aqui acima, lá vamos vivendo e gozando como podemos!
Para terminar e porque a posta já vai longa, deixo neste blogue um apelo: gostaria que algum sociólogo da praça que por aqui, casualmente passe a vista, se debruçasse sobre este enigmático tema e me ajudasse a perceber a motivação desta gente.
Estou certo, que ao encontrarem a difícil justificação para este comportamento, estariam definitivamente a descobrir as causas do nosso país estar no estado deprimente em que se encontra!
Só não me venham com tretas de que isto se justifica pela falta de condições económicas…porque não é de todo verdade.
Tylben
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