28 de junho de 2005

Os Sonsos DC

Um dos mais típicos espécimes que pululam no nosso pais e que divergiram do Português típico é o Sonso do Carailho,doravante descrito como Sonso DC.

Esta categoria, diverge do “Chico esperto” quanto ao “módus operandi” mas ambos partilham objectivos comuns. Existe desde que me conheço e tem tanto de refinamento no comportamento como de falta de inteligência. É transversal a idades, sexos e a classes sociais.
Encontram-se um pouco por toda a parte, sendo no entanto mais provável a sua observação a olho nu e em plena actuação nas filas das caixas do hipermercado, em repartições de finanças, centros de saúde ou centros de inspecção automóvel. Foi neste último local, que mais recentemente tive o privilégio de observar um destes exemplares. Como por certo já depreenderam o denominador comum a todos estes locais é o de geralmente possuírem grandes bichas. Tal como a traça tem apetite pela roupa velha, o sonso DC tem especial atracção pela bicha.
A propósito, bicha é o nome que desde pequenino me ensinaram para um aglomerado de pessoas que a todo custo se tentam acotovelar para dar o golpe ao que o precede. Já paneleiro, foi o nome que aprendi na escola para apelidar um ser com aspecto de homem mas que gosta de abafar a palhinha.

Voltando aos Sonsos DC. Normalmente apresentam-se de boca aberta, olhar triste e ausente. Movem-se lentamente, para não despertar grande atenção e tentam passar uma imagem de quem está a pensar na “morte da bezerra”. Lentamente, mas com grande objectividade, vão passando à frente dos morcões e totós que de forma ordeira aguardam a sua vez para serem atendidos. Se alguém dá por ela e o chama à atenção, o Sonso DC, se verdadeiro, demora algum tempo a reagir, para reforçar a impressão de que estava ausente, e normalmente só à terceira vez é que de forma atarantada reage:
- Quem? Eu? A passar à frente?
- Sim você! Está aqui mais alguénhe?…num bê? Está aqui a gente há horas na bicha e bem agora vossemecê armado em campiom… passar à frente?
Normalmente se a chamada de atenção for deste calibre ou mais intensa, o sonso mete o rabito entre a pernas e lá vai para o fim da bicha, sempre com ar de quem acordou nesse dia sem saber onde estava.
Já se o reparo por parte do morcão for macio ou de forma educada, o artista terá natural tendência a retorquir com uma das seguintes frases, consoante a situação:
- Repartição de finanças – Era só p’ra pedir uma informaçomzinha…
- Supermercado – É só este champôzinho e meio franginho…
- Quiosque para registar o totoloto – é que tenho o carrinho mal estacionado…
- Centro de Saúde – é só pra marcar uns exames prá minha Catiazinha, que coitadinha, tem andado tão atacadinha dos brônquios, que até dá peninha!

O Sonso DC, porque é um exemplar aparentemente inofensivo, não é mal aceite pelo Portuga. Aliás, basta aliar ao ser olhar meigo a utilização intensa no seu vocabulário de diminutivos inha e zinho para transmitir logo ao Portuga um sentimento de compaixão e a certeza de que se trata de gente boa. Como prova basta observar que em caso de eventual zaragata, encontra geralmente na bicha acérrimos defensores.
Espero que este meu breve apontamento possa ter contribuído para que da próxima vez que depararem com um SONSO DC, possam estar mais preparados para o mandar para o C e assim, humildemente contribuir para utópica mas nobre missão de eliminar os Sonsos DC e seus congéneres que têm como única missão a de “comer o próximo”

Brevemente, neste local serão dissecados os traços característicos de mais géneros divergentes do verdadeiro Portuga.

Até breve.

Tylben

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